Weymann disse que Hisas foi informada do problema antes da publicação do artigo
O aumento da temperatura do planeta em 2,4ºC até 2020 é a conclusão de um estudo considerado falso, divulgado anteontem pelo Eurekalert!. O serviço noticioso sobre ciência “lamenta profundamente” o sucedido.
“O comunicado de imprensa foi prontamente removido do Eurekalert! e a equipa está a tomar as medidas necessárias para corrigir a situação com todos os jornalistas que o leram”, escreveu ontem em comunicado este serviço online, gerido pela AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que publica a revista “Science”.
Mas entretanto, vários meios de comunicação internacionais publicaram a notícia esta terça-feira, incluindo a agência de notícias francesa AFP e a espanhola EFE.
O artigo em questão foi submetido por Marshall Hoffman, da empresa de relações públicas Hoffman & Hoffman, em nome da organização não governamental argentina, Universal Ecological Fund (Fundación Ecológica Universal). Nela se dava conta de um “ritmo de aquecimento global inconsistente com outras fontes de informação credíveis sobre alterações climáticas”, escreveu ontem a Eurekalert!.
O estudo concluía que a temperatura do planeta iria aumentar 2,4ºC até 2020, com graves consequências para o fornecimento mundial de alimentos. “Isto está a acontecer muito mais depressa do que esperávamos”, escreveu no artigo Liliana Hisas, directora-executiva da FEU e autora do estudo.
“Confiamos, acima de tudo, na organização que submete os trabalhos para garantir a veracidade do conteúdo científico do comunicado”, explicou ao jornal "The Guardian" Ginger Pinholster, da AAAS. Neste caso, “um jornalista do Guardian alertou-nos terça-feira em relação ao comunicado”, explicou. “Contactámos imediatamente um especialista em alterações climáticas que nos confirmou que a informação lhe causava muitas dúvidas. Por isso, retirámos o comunicado do Eurekalert!”.
O serviço escreve que “lamenta profundamente que o sistema tenha falhado”.
Climatólogos consideram conclusões alarmistas
Os climatólogos já alertaram que esse aumento na próxima década é alarmista e seria mesmo impossível. “2,4ºC em 2020 representa seis a sete vezes a taxa de aumento da temperatura projectada”, lembrou ao jornal “The Guardian” Gavin Schmidt, climatólogo da NASA (agência espacial norte-americana). Na opinião de vários peritos, Hisas não levou em consideração a influência exercida pelos oceanos, que absorvem calor e que alteram os efeitos do aumento das concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera.
De acordo com o climatólogo Ray Weymann, “o estudo contém um erro importante, na medida em que confunde o aumento da temperatura dita ‘de equilíbrio’ com a subida da temperatura ‘transitória’”, cita a AFP.
Weymann salientou que Hisas foi informada deste problema antes da publicação do artigo. “A autora do estudo foi advertida por vários especialistas deste erro mas disse que já era muito tarde para o corrigir”, acrescentou.
Por sua vez, Hisas garante que as suas conclusões principais foram avaliadas e aprovadas por um cientista argentino, Osvaldo Canziani, e que não pretende despublicar o artigo. “Simplesmente vamos para a frente com isto. De momento não tenho escolha”, disse ao “The Guardian”. “O cientista com quem trabalhei verificou tudo e, de acordo com ele, não existem erros.” Canziani, um dos antigos cientistas que participaram nos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas), explicou que esta projecção se baseou no último relatório do IPCC, publicado em 2007, e em outros dados entretanto publicados.
O Eurekalert! é um serviço noticioso não lucrativo, gerido por um consórcio global de instituições na área da ciência, tecnologia, saúde e ciências sociais. O acesso aos artigos científicos é gratuito.
fonte: Público
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