Desde o início dos protestos já morreram seis pessoas
As forças de segurança egípcias estão em estado de alerta máximo desde a madrugada, sendo esperadas milhares de pessoas nas ruas de várias cidades, incluindo a capital, onde o influente opositor reformista Mohamed ElBaradei se irá juntar aos protestos contra o Presidente, Hosni Mubarak.
Com a vaga de contestação a entrar hoje no quarto dia consecutivo – e um balanço acumulado de seis mortos, quatro manifestantes e dois polícias – há relatos esta manhã de um bloqueio quase total dos serviços de internet e comunicações textuais por via telefónica, que foram até agora usados pelos manifestantes para se organizarem.
O Governo terá mesmo dado ordens aos quatro principais fornecedores de internet no país (Link Egypt, Vodafone/Raya, Telecom Egypt, Etisalat Misr) para cessarem os seus serviços, afectando as ligações ao exterior de clientes privados, empresas, bancos, escolas e até departamentos governamentais. A empresa norte-americana de monitorização da Internet Renesys, que confirmou a interrupção de serviços no Egipto, avaliou que esta suspensão “não tem precedentes na história da Internet”.
Há relatos igualmente de que foram detidas durante a noite várias figuras de topo dos movimentos de oposição ao regime, sobretudo da Irmandade Muçulmana – o maior no Egipto – depois de a organização ter declarado pela primeira vez oficialmente que apoiava os protestos populares.
O Governo de Mubarak, há três décadas no poder, afirmou estar aberto ao diálogo, mas também avisou que tomaria “medidas firmes” para responder à vaga de protestos, que copia a revolta popular na Tunísia, a qual culminou com o derrube do chefe de Estado, Zine al-Abidine Ben Ali. Os manifestantes exigem o afastamento de Mubarak e protestam contra a subida dos preços, o desemprego e o exercício autoritário do poder no país que permite quase ou nenhuma oposição.
É esperado que hoje os protestos sejam os maiores desde terça-feira, contando agora com a participação de ElBaradei – figura de estatuto internacional, ex-director da agência nuclear das Nações Unidas e prémio Nobel da Paz em 2005 – o qual chegou ao Cairo ontem à noite com a “disponibilidade” para liderar a “transição política” no país, “se a população assim o quiser”. Os primeiros sinais são de enormes congregações populares ao início desta tarde, logo após as orações de sexta-feira.
“Isto é uma revolução. Todos os dias vamos aqui voltar”, prometia um jovem manifestante, de 16 anos, ontem à noite em Suez, onde foram registadas escaramuças com a polícia pela madrugada dentro, e onde tinham morrido três dos quatro manifestantes nos confrontos com as forças de segurança.
Obama apela a reformas
Ainda ontem à noite, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pôs na mesa pela primeira vez o seu peso político desde o início da crise no Egipto, insistindo que é “absolutamente crítico” que o regime do Cairo faça reformas.
Cuidadoso nas palavras, para evitar qualquer sinal de abandono de Mubarak – um importante aliado para o Ocidente – Obama não deixou porém de dizer com clareza que sente “simpatia” para com os manifestantes que expressam agora as suas “frustrações reprimidas” face à ausência de mudanças significativas. “Sempre lhe disse [a Mubarak] que assegurar que avançam nas reformas – políticas, económicas – é absolutamente crucial para o bem-estar a longo prazo no Egipto”.
fonte: Público
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