Portugal vai pagar ao estrangeiro €28,5 mil milhões em juros, dividendos e rendimentos
Os portugueses pagaram, em média, €11 mil por minuto em juros ao estrangeiro ao longo dos 10 primeiros meses de 2010. Até outubro, segundo os últimos dados disponíveis do Banco de Portugal (BdP), foram já pagos €4,7 mil milhões em encargos só com os títulos de dívida (pública e privadas) de curto e longo prazo. Em contrapartida, recebeu apenas €2,8 mil milhões, o que significa um saldo negativo de quase €2000 milhões que foram retirados à riqueza produzida este ano.
Mas isto é apenas uma parte dos rendimentos totais transferidos para o exterior, onde se incluem também remunerações de trabalho, lucros e dividendos de participações em empresas. Quando se incluem todas estas parcelas, a fatia que o exterior leva do produto interno bruto (PIB) português é ainda maior. Até Outubro foi de €6,3 mil milhões mas o BdP estima que possa ser de 4,5% do PIB no final do ano, ou seja, qualquer coisa como cerca de €7,78 mil milhões.
E o pior é que a tendência é para se agravar. No Boletim Económico divulgado esta semana, onde prevê que a economia caia 1,3% em 2011 e cresça 0,6% no próximo ano, o banco central aponta para um agravamento do défice da balança de rendimentos para 5,4% em 2011 e 6,3% em 2012. Assim, os portugueses não terão apenas que enfrentar uma diminuição do PIB este ano como verão aumentar a parte do rendimento nacional transferida para o exterior para pagar dívidas e investimentos em território nacional.
É a consequência do avolumar de dívida externa mas também do aumento dos custos perante a crise da dívida soberana. A taxa de juro da dívida pública a dez anos está agora próxima dos 6,9%. Em média, no ano passado, foi de 4,2%.
Para a banca nacional, altamente endividada no exterior (cerca de €170 mil milhões no final do terceiro trimestre), esta crise traduz-se também em taxas de juro mais altas. Enquanto o Estado tem neste momento uma taxa 5,9% na dívida a cinco anos, há bancos a pagar mais de 10%. Durante o ano passado, perante um mercado monetário com pouca (ou nenhuma) vontade em emprestar às instituições financeiras nacionais, foi o Banco Central Europeu (BCE) a estender a mão. Os empréstimos de Frankfurt atingiram um valor recorde em Agosto, ao chegar a €49 mil milhões. Entretanto, desceu mas voltou a subir em Dezembro para €40,9 mil milhões.
Um buraco a aumentar
Em 2004, por exemplo, o défice da balança de rendimentos foi de apenas 2% do PIB. No próximo ano será o triplo. Entre 2010 e 2012, pelos cálculos do Expresso a partir das projeções do BdP para o crescimento nominal da economia (usando a taxa de inflação por falta de dados sobre o deflator do produto) e para a balança de rendimentos, serão €28,5 mil milhões pagos ao exterior. Cerca de um terço deste valor são juros.
No Boletim Económico, o banco sublinha mesmo que esta situação resulta do "atual contexto de elevados prémios de risco da dívida soberana para Portugal". Sobre a política monetária futura do BCE, o BdP não faz antevisões mas nas projeções admitiu a hipótese de manutenção das atuais medidas durante o horizonte de projeção. Leia-se, a atual política de cedência de liquidez ilimitada nos leilões semanais à taxa fixa de 1% é para continuar até 2012. Antes da crise, os leilões tinham montantes limitados e a taxa era uma base de licitação podendo subir com as ofertas. Está também subjacente a possibilidade de Frankfurt continuar a comprar dívida soberana no mercado secundário para tentar dar alguma estabilidade às taxas de juro e travar a pressão sobre os países periféricos. Esta semana, por exemplo, o BCE fez uma forte intervenção em títulos portugueses na terça-feira para acalmar os investidores antes do leilão de quarta-feira.
O Governo passou esta semana com sucesso o primeiro de muitos testes que tem pela frente este ano. Mas a fatura dos juros do Estado e do setor privado cresce a cada emissão, à medida que as novas taxas (mais altas) vão substituindo as anteriores (mais baixas). O preço a pagar não vai parar de aumentar nos próximos anos. Só nos cerca de quatro minutos que demorou a ler este artigo foram mais €44 mil.
fonte: Expresso
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