Ben Ali (à esquerda) e Habib Bourguiba, falecido em 2000, foram os dois únicos presidentes da Tunísia em 55 anos
Os protestos foram desencadeados pela morte de um vendedor ambulante que se imolou pelo fogo e agora passam também por ataques aos sites governamentais.
Vários sites ligados ao governo da Tunísia, liderado há 23 anos pelo Presidente Zine el-Abidine Ben Ali, estiveram bloqueados durante horas devido a ciberataques de internautas contra o regime tunisino. Os protestos, os piores dos últimos anos, intensificaram-se após a morte de Mohammed Bouazizi, um licenciado no desemprego, de 26 anos, que tentou imolar-se pelo fogo a 17 de Dezembro, depois de as autoridades lhe terem confiscado o seu carrinho de venda ambulante, e acabou por morrer na sequência dos ferimentos.
Esta quarta-feira estiveram bloqueados vários sites do governo tunisino, o do banco Zitouna e o da agência tunisina ligada à Internet, adiantou a AFP. Os ataques foram a reposta a um apelo feito por um grupo que se apresenta como “Anónimos” e protesta contra os ataques à liberdade de expressão na Tunísia e o “nível escandaloso de censura” no país. O grupo sublinhou também a responsabilidade dos órgãos de informação internacionais em “dar conta daquilo que os meios de comunicação tunisinos não podem relatar”.
“Os tunisinos estão fartos de 23 anos de ditadura, corrupção e falta de liberdade de expressão, escreveu Lina Ben Mhenni, de 23 anos, no seu blogue. “Os manifestantes estão a criticar o poder”, adiantou, citada pelo diário espanhol “El País”.
Mohammed Bouazizi morreu na terça-feira, dias depois de se ter incendiado para protestar contra a confiscação do seu carrinho de mercadorias em Sidi Bouzid, a 200 quilómetros de Tunis. O seu acto fez aumentar a onda de protestos de activistas de direitos humanos e sindicalistas que se estenderam a várias cidades. Esta quarta-feira, no seu funeral, acompanhado por cerca de 5000 pessoas, ouviu-se gritar “vergonha para o governo!”
O vendedor ambulante foi a quarta pessoa a morrer na sequência das manifestações, depois de dois civis terem sido mortos por disparos da polícia em Bouaziane, no Sul do país, e de outro licenciado ter morrido depois de se agarrar a cabos de alta voltagem para protestar contra “a miséria e o desemprego” no país.
Ainda esta quarta-feira uma mulher e os seus três filhos subiram a um poste de alta tensão em Sidi Bouzid, que tem sido um dos principais palcos de contestação, e ameaçaram suicidar-se. Pediram trabalho e habitação, contou à AFP um professor tunisino e sindicalista, Slimane Rouissi. As autoridades acabaram por cortar a electricidade no local e a família foi retirada.
Em Tunis, um rapaz estudante do ensino secundário também tentou deitar fogo às suas roupas mas acabou por ser socorrido por colegas e professores, adiantou a AFP. Foi depois levado para o hospital para ser tratado a diversas queimaduras.
A Tunísia tem um regime autoritário e apenas conheceu dois presidentes desde a independência de França, há 55 anos. O actual líder, Zine el-Abidine Ben Ali, está no poder há 23 anos e tem trabalhado com os aliados ocidentais contra extremistas e a rede terrorista Al-Qaeda. Apesar do défice democrático e da repressão a Tunísia é considerada pelos seus aliados como um modelo de estabilidade e prosperidade no mundo árabe. Mas o país enfrenta uma grave crise que já fez a taxa de desemprego disparar para 25 por cento entre os licenciados.
fonte: Público
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