RELÓGIO DO APOCALIPSE

domingo, 20 de março de 2011

Até mães solteiras perdem abono


Alexandra, uma adolescente e mãe solteira, viu o Estado tirar-lhe dez euros do abono de família, do filho de três anos. A ganhar o sustento num salão de cabeleireiro, a jovem, que já vivia com muitas dificuldades, debate-se agora com graves problemas ao receber apenas 35,19 euros.

A diminuição das prestações familiares, que começou em Janeiro, afectou todos os escalões, chegando às pessoas com menores rendimentos, como é o caso de mães solteiras adolescentes, casais desempregados e com muitos filhos.

Nessa situação, estão muitas das jovens mães com dificuldades acompanhadas pelo Ponto de Apoio à Vida (PAV). Algumas estão mesmo institucionalizadas e vivem na Casa de Santa Isabel, em Lisboa.

Actualmente são seis as adolescentes a viver na instituição, conta ao SOL Mara Mota, assistente social e directora técnica da Casa. Todas mães pela primeira vez vão ter de viver com abonos de família reduzidos, apesar de não terem qualquer apoio familiar.

O número de mães a procurar o apoio do PAV, sem implicar a institucionalização, disparou nos últimos meses. Em 2010, 1931 mulheres pediram ajuda e destas 274 são novos casos. «Por mês, temos entre 30 a 40 mais mulheres a pedir-nos apoio», adianta Mara Mota. O que está em questão, explica a assistente social, é que «neste tipo de população, uma redução nos apoios, por menor que seja, faz muita diferença». E acrescenta: «Piora situações já muito difíceis».

Pedidos de ajuda disparam

As mesmas dificuldades enfrentam também muitas mulheres com mais do que um filho que perderam a majoração recebida até Dezembro passado. «Estamos a falar de mães muito jovens, sem estruturas de apoio, que têm de recorrer a creches para poder trabalhar».

Na associação O Companheiro, os pedidos de ajuda dispararam em Janeiro. «Em relação a 2010, tivemos um grande aumento. Em Janeiro de 2011, 130 pessoas pediram a nossa ajuda. No ano passado, foram 97», refere Sílvia Moço, da instituição que apoia antigos reclusos e também as suas famílias.

Estas situações são ainda mais graves, acrescenta, porque além da perda nos abonos de família, há também situações de desemprego em que as famílias ficaram sem o rendimento social de inserção.

E não são apenas os mais desfavorecidos a solicitar ajuda a esta associação - que pode ir dos bens alimentares, distribuídos pelo Banco Alimentar, a roupas, mobílias, entre outros. «Reparámos num aumento muito significativo nos pedidos de ajuda de famílias da classe média», diz Sílvia Moço.

Uma diferença premente no auxílio prestado pela instituição sente-se nos géneros alimentares: «Se antigamente distribuíamos mais secos, hoje entregamos mais frescos, pelo menos uma vez por semana».

Também no Grupo de Acolhimento e Partilha se verificou um aumento nos pedidos de ajuda. O motivo apontado é semelhante: às situações já dramáticas vividas pelas famílias, juntou-se a diminuição no abono de família ou mesmo a perda.

Basta que o rendimento bruto dos elementos do agregado familiar seja superior a 638 euros mensais, para que a prestação seja retirada pelo Estado.

Foi o que aconteceu a 125 mil portugueses, segundo dados avançados pela Segurança Social. Com as novas medidas, de redução nos subsídios sociais, o Executivo de José Sócrates espera arrecadar 83.500 euros. 90% desse valor são cortes nos abonos de família.

Desempregados sem apoio

Apesar de se encontrar desempregada desde Dezembro de 2009, Marta Vasconcelos, de 41 anos, perdeu o abono dos seus quatro filhos com idades entre um ano e meio e os 13 anos. E Marta não é a única desempregada na família. A meio do ano passado, o marido, Francisco, também com 41 anos, perdeu o emprego como gestor no ramo automóvel.

Por isso, critica o facto de, para a atribuição do abono, o Estado não ter em conta a situação de IRS actual, mas a do ano anterior. «O desfasamento temporal na prova de rendimentos que temos de entregar, o IRS, é injusto», considera Marta Vasconcelos.

Meia-criança

Para José Aguiar, de 32 anos, esta medida do Governo também não chegou sozinha. Além da descida no ordenado da mulher, funcionária pública de 34 anos - que viu o salário reduzido em cerca de 200 euros -, José perdeu o direito ao subsídio dos três filhos, de três, seis e 14 anos.

Recebia 89 euros por mês, que ajudavam a pagar a natação ou as fraldas do mais novo, por exemplo. «Com o aumento do IVA, as reduções nas deduções com despesas de saúde e educação e os cortes no abono ficámos com menos 430 euros por mês. Faz muita diferença», garante.

Também no antigo 5.º escalão, Carla Ribeiro, de 36 anos, com três filhos de dois, três e quatro anos, perdeu todos os direitos ao abono ou majorações. «Percebi que, para o Governo, até aqui uma criança valia um, agora vale meio», revolta-se.

fonte: Sol

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