RELÓGIO DO APOCALIPSE

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O “11 de setembro” da diplomacia mundial


A fuga de informação maciça de mais de 250 mil telegramas do Departamento de Estado norte-americano começou por ser uma crise diplomática que podia “mudar tudo”. Após sete dias a fazer manchetes e, com uma sucessão de ataques ao site da WikiLeaks e tentativas para o suprimir, tornou-se numa discussão sobre a liberdade de expressão e também sobre a liberdade de imprensa.

O preconizado encerramento da Administração americana em si própria, como um ouriço-cacheiro, começou logo que foram publicadas as primeiras comunicações em que se revelava a forma como Washington conduz a sua política externa. As duas grandes bases de dados que tinham sido conectadas depois do 11 de setembro – a do Departamento de Defesa, chamada SIPRNet, e a do Departamento de Estado, a Net Centric Diplomacy Database – foram separadas.

O regresso a um mundo cheio de cercas, em vez de cada vez mais ligado entre si, será uma das consequências da maior fuga de informação da história?

Uma tensão antiga

Os documentos a que a WikiLeaks teve acesso e já divulgou em parte trouxeram a público alguns segredos da diplomacia de Washington como a investigação a diplomatas da ONU, a oferta de dinheiro a países que recebem presos de Guantánamo ou as críticas a aliados como a Alemanha, Itália ou Reino Unido.

“É evidente que toda a informação que se publica e que algum poder não quer que se publique gera uma reação”, responde Vicente Jiménez Navas, diretor adjunto do El País, um dos cinco jornais que tiveram acesso aos telegramas da WikiLeaks, para lhes darem tratamento jornalístico.

“Esse poder vai reforçar o controlo dos seus meios de segurança. Terá acontecido isso com os Pentagon Papers ou com o escândalo do Watergate. Não estamos perante uma situação muito nova. A diferença é que pela primeira vez um grupo de media acedeu a uma quantidade imensa de documentos sobre a política externa de uma das grandes potências”, concluiu Jiménez Navas. “Isso vai dificultar o trabalho de todos os jornalistas, pelo menos numa primeira fase.” Mas a longo prazo, acredita, “a democracia sai reforçada”.

Segundo o El País “o alcance destas revelações é de tal calibre que, seguramente, se poderá falar de um antes e um depois, no que diz respeito aos hábitos diplomáticos”.


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