Adam LeBor, autor de The Budapest Protocol (há tradução portuguesa) apresenta o seu livro de forma concisa mas fascinante e dizendo que é “ficção” acrescenta logo que ele se baseia em documentos reais da “intelligence” americana de 1944… Estamos, portanto, entendidos sobre a “ficção” e os seus fundamentos e origens. Diz Adam LeBor: “I’ve written a novel. A thriller, to be more precise. It’s called The Budapest Protocol and is published this month by Reportage Press. Reportage Press is a new company, set up by former journalists, specialising in books with a foreign affairs slant. My book’s hero is, of course, a foreign correspondent – what else did you expect ?! He discovers that the European Union super-state is a front for a sinister conspiracy hatched in the last days of the Second World War. The Budapest Protocol is fiction, but was inspired by a genuine 1944 US military intelligence report on the Nazi industrialists’ post-war plans, known as the ‘Red House Report’. Read more about the Red House Report in today’s Mail on Sunday.” Um livro que chega no momento certo e é de leitura obrigatória…
O livro mereceu, nesta edição portuguesa, uma certeira crítica de Filipe Luís, na ‘Visão’. Diz o redactor da revista que “a guerra pode já ter começado”… Não da forma que se espera que as guerras comecem mas de uma outra: a guerra económica. E acrescenta: “No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia”. “Suposto directório…” Sim talvez seja “suposto”. Mas há anos que gente ligada à secreta inglesa garante que esse “directório” existe mesmo. E vão, antecipadamente, revelando os passos seguintes da sua estratégia. E não se têm enganado… Os livros, às vezes, têm destas coisas, é através da “ficção” que se chega à realidade e aos conceitos teóricos que a explicam. Como este de “guerra económica”… Welcome, Filipe Luís.
Prossegue o crítico: “a inflamada declaração de Angela Merkel, numa entrevista à televisão pública alemã, ARD, em que sugere a perda de soberania para os países incumpridores das metas orçamentais, bem como a revelação sobre o papel da célebre família alemã Quandt, durante o Terceiro Reich, ligam-se, como peças de puzzle, a uma cadeia de coincidências inquietantes. Gunther Quandt foi, nos anos 40, o patriarca de uma família que ainda hoje controla a BMW e gere uma fortuna de 20 mil milhões de euros. Compaghon de route de Hitler, filiado no partido Nazi, relacionado com Joseph Goebbels, Quandt beneficiou, como quase todos os barões da pesada indústria alemã, de mão-de-obra escrava, recrutada entre judeus, polacos, checos, húngaros, russos, mas também franceses e belgas. Depois da guerra, um seu filho, Herbert, também envolvido com Hitler, salvou a BMW da insolvência, tornando-se, no final dos anos 50, uma das grandes figuras do milagre económico alemão. Esta investigação, que iliba a BMW mas não o antigo chefe do clã Quandt, pode ser a abertura de uma verdadeira caixa de Pandora. Afinal, o poderio da indústria alemã assentaria diretamente num sistema bélico baseado na escravatura, na pilhagem e no massacre. E os seus beneficiários nunca teriam sido punidos, nem os seus empórios desmantelados.
As discussões do pós-Guerra, incluíam, para alguns estrategas, a desindustrialização pura e simples da Alemanha – algo que o Plano Marshal, as necessidades da Guerra Fria e os fundadores da Comunidade Económica Europeia evitaram. Assim, o poderio teutónico manteve-se como motor da Europa. Gunther e Herbert Quandt foram protagonistas deste desfecho.
Esta história invoca um romance recente de um jornalista e escritor de origem britânica, a viver na Hungria, intitulado “O protocolo Budapeste”. No livro, Adam Lebor ficciona sobre um suposto diretório alemão, que teria como missão restabelecer o domínio da Alemanha, não pela força das armas, mas da economia. Um dos passos fulcrais seria o da criação de uma moeda única que obrigasse os países a submeterem-se a uma ditadura orçamental imposta desde Berlim. O outro, descapitalizar os Estados periféricos, provocar o seu endividamento, atacando-os, depois, pela asfixia dos juros da dívida, de forma a passar a controlar, por preços de saldo, empresas estatais estratégicas, através de privatizações forçadas. Para isso, o diretório faria eleger governos dóceis em toda a Europa, munindo-se de políticos-fantoche em cargos decisivos em Bruxelas – presidência da Comissão e, finalmente, presidência da União Europeia.
Adam Lebor não é português – nem a narração da sua trama se desenvolve cá. Mas os pontos de contacto com a realidade, tão eloquentemente avivada pelas declarações de Merkel, são irresistíveis. Aliás, “não é muito inteligente imaginar que numa casa tão apinhada como a Europa, uma comunidade de povos seja capaz de manter diferentes sistemas legais e diferentes conceitos legais durante muito tempo.” Quem disse isto foi Adolf Hitler. A pax germânica seria o destino de “um continente em paz, livre das suas barreiras e obstáculos, onde a história e a geografia se encontram, finalmente, reconciliadas” – palavras de Giscard d’Estaing, redator do projeto de Constituição europeia.
É um facto que a Europa aparenta estar em paz. Mas a guerra pode ter já recomeçado.”
fonte: Inteligência Económica
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