Um recorde sem paralelo no mundo, nem mesmo no país de Mahatma Gandhi. A activista indiana Irom Sharmila cumpriu no início do mês 11 anos sem comer nem beber água.
Desde 5 de Novembro de 2000 que a poetisa, hoje com 39 anos, vive numa ala de alta segurança do principal hospital do estado de Manipur. Magra, pálida, fraca, de cabelo desgrenhado, Irom encontra-se detida pelo crime de tentativa de suicídio, ali considerado um delito.
É alimentada à força por uma sonda enfiada no nariz que lhe fornece apenas os nutrientes básicos. Cumpre sucessivas penas de um ano de prisão, o castigo máximo, porque nunca interrompeu o protesto. A cada 15 dias, e por imposição legal, é interrogada por um juiz que lhe pergunta se está disposta a comer. Responde sempre que se alimentará no dia em que for revogada uma lei que garante imunidade às forças de segurança indiana em Manipur.
Uma guerra esquecida
O artigo de excepção foi publicado em 1980 e teria inicialmente um carácter temporário, para permitir a acção do exército e da Polícia naquele canto do Nordeste indiano, geográfica e culturalmente mais próximo da Indochina, onde pelo menos 23 grupos separatistas e uma miríade de gangues e milícias combatem entre si e contra o Estado central. A lei mantém-se em vigor 31 anos depois e, acusam oposição e movimentos de defesa dos direitos humanos, tem encoberto um número indeterminado de casos de homicídio, tortura, violação, roubo e corrupção cometidos por militares e agentes da Polícia.
Tal como o conflito de Manipur permanece largamente ignorado pela imprensa internacional, onde as parangonas provenientes da Índia dão sobretudo conta do milagre económico da potência emergente, a luta de Irom é eclipsada por protestos mais mediáticos como o de Anna Hazare, activista anticorrupção que esteve 12 dias em greve de fome em Nova Deli. Mas Irom conta com o apoio de um séquito de activistas locais. E com dois grandes obstáculos. Desde a primeira hora que a mãe implora pelo fim do protesto. «Só consigo chorar. Queria tanto que ela viesse para casa e que partilhássemos uma refeição», diz Shakhi Devi, de 78 anos, ao Los Angeles Times.
Surge agora um segundo desafio. O activista goês Desmond Coutinho pediu Irom em casamento depois de a ter visto por breves instantes numa das recorrentes idas a tribunal. Para pânico dos seus apoiantes, que consideram Coutinho um «espião sexual de Nova Deli», a poetisa mostra-se entusiasmada. «Sou um ser humano normal, não sou nenhum modelo de comportamento», afirmou Irom. Por agora, a luta continua.
fonte: Sol
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