EUA e Israel desenvolveram em conjunto
o sofisticado vírus informático Flame, detectado recentemente e considerado uma
“ciberarma” global, com o intuito de conduzir uma ciber-sabotagem à capacidade
iraniana de desenvolver armas nucleares, avança hoje o “The Washington Post”,
que cita “responsáveis ocidentais com conhecimentos acerca desse esforço”.
Este malware alegadamente
desenvolvido por Washington e Telavive infiltrou-se secretamente na rede
iraniana e monitorizou as actividades do sector nuclear nacional, enviando
dados sensíveis para os responsáveis americanos e israelitas, indicaram os
mesmos responsáveis que foram a fonte deste artigo daquele jornal.
O esforço de desenvolvimento
deste vírus – a cargo da National Security Agency (NSA), da CIA e do Exército
israelita, segundo o mesmo diário – incluiu o uso de software destrutivo
semelhante ao já conhecido Stuxnet, para causar danos de funcionamento ao
equipamento de enriquecimento nuclear iraniano.
Estes novos detalhes acerca do
Flame fornecem novas pistas para aquilo que poderá ser considerada a primeira
campanha de ciber-sabotagem contra um inimigo comum dos EUA e de Israel.
Pensa-se que este vírus Flame –
considerado um dos mais complexos alguma vez detectados – também terá recolhido
dados privados de uma série de países para além do Irão, incluindo Sudão,
Síria, Líbano, Arábia Saudita e Egipto.
A empresa de segurança
informática russa Kaspersky Labs – das primeiras entidades a denunciar a
existência do vírus – indicou recentemente à BBC que este malware é muito
complexo e que poderá demorar anos a analisar. Actua como uma espécie de
“aspirador” de dados estatais sensíveis. A mesma empresa indicou igualmente que
os ataques teriam origem num programa governamental.
Até ao momento, quer os EUA quer
Israel sempre negaram qualquer envolvimento na criação desta “ciberarma”.
Washington e Telavive não
comentam
Apesar da negação, um alto
responsável dos serviços secretos norte-americanos disse ao WP que este vírus
foi apenas uma forma de preparar terreno para novas acções mais avançadas de
espionagem e neutralização que já estão a decorrer e que foram planeadas pelos
EUA e Israel.
A CIA, a NSA e o gabinete do
Director dos Serviços Secretos Nacionais, bem como a embaixada israelita em
Washington, escusaram-se a comentar esta notícia, indica o WP.
O Flame foi criado de forma a
operar disfarçado de uma corriqueira actualização da Microsoft e conseguiu
durante anos despistar qualquer detecção usando um sofisticado programa
envolvendo a encriptação de algoritmos.
“Isto não é algo que a maioria
dos programadores tenha a capacidade de fazer”, disse Tom Parker, responsável
do FusionX, uma empresa de segurança especialista em simulação de ciberataques
levados a cabo por Estados. Parker adianta não saber quem estará por detrás da
criação deste vírus, mas adianta que ele é fruto do trabalho de pessoas com
conhecimentos avançados em criptografia e matemática, tais como as que
trabalham para a NSA.
O WP indica ainda, citando
responsáveis americanos familiarizados com as ciber-operações nacionais e
peritos que escrutinaram o código do vírus, que o Flame foi desenvolvido há
pelo menos cinco anos como parte de uma operação denominada Jogos Olímpicos.
Até ao momento, a mais conhecida
ciber-arma usada contra o Irão foi o vírus Stuxnet, que infectou os sistemas
nucleares iranianos fazendo com que quase mil centrifugadoras de urânio
ficassem fora de controlo. Os estragos foram acontecendo gradualmente, ao longo
de meses, e as autoridades iranianas pensaram inicialmente que isso era o
resultado da incompetência dos técnicos.
Os esforços para atrasar e causar
danos ao programa nuclear iraniano - que Teerão sempre disse ter um fim
pacífico - começaram a tomar forma durante o segundo mandato do Presidente
George W. Bush.
Nessa altura tratava-se apenas de
reunir informações secretas a fim de se identificarem potenciais alvos. Em 2008
- continua o WP - o programa ficou operacional (ainda durante a Presidência de
Bush) e passou do controlo militar para a CIA.
Apesar da colaboração entre os
EUA e Israel para o desenvolvimento de malware, nem sempre Washington e
Telavive coordenaram os seus ataques, o que ficou provado em Abril passado,
quando o estado israelita levou a cabo um ataque unilateral contra as
infra-estruturas petrolíferas iranianas que causaram apenas problemas menores.
Foi precisamente esta acção que levou à descoberta do Flame.
Sem comentários:
Enviar um comentário