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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Filme de Michael Moore é para maiores de 17 - e uma das cenas polémicas é sobre Portugal


Michael Moore em Portugal com a CGTP no último 1.º de Maio 


Where to invade next


Where to invade next

Realizador contesta a classificação da MPAA, que detalha quatro casos no filme, um dos quais sobre a droga em Portugal, e rejeita mudar o documentário. “Não vou fazer quaisquer cortes".

A classificação do novo filme de Michael Moore nos EUA torna obrigatório que os adolescentes sejam acompanhados por um adulto para o ver. E uma das cenas que motiva o Rated R pela Motion Picture Association of America, que o realizador contesta, é referente a Portugal e à descriminalização da aquisição, posse e consumo de drogas no país. “Não vou fazer quaisquer cortes. Não acreditamos em censura neste país”, diz Moore sobre o seu filme e os EUA, e “não pode haver qualquer transigência neste tipo de coisas”.

Esta semana, a Motion Picture Association of America (MPAA), responsável pela classificação etária dos filmes estreados nos EUA, atribuiu a Where to invade next a classificação R – Restricted, que restringe o acesso à sala de cinema de espectadores com menos de 17 anos aos que sejam acompanhados por um dos pais ou um adulto.

Não sendo a mais restritiva das classificações – é a segunda mais restritiva, sendo a NC-17 aquela que interdita mesmo a entrada de menores de 17 -, tem o potencial de diminuir a audiência do filme mas também de gerar notícias e conversas sobre ele. Moore rejeita a classificação e vai recorrer da decisão do painel, com o qual já se debateu no passado, nomeadamente com o seu primeiro filme, Roger e Eu (1989), o oscarizado Bowling for Columbine (2002). “É espantoso como passaram 25 anos – inventámos a Internet, o casamento gay é legal e elegemos um afro-americano Presidente dos EUA, mas a MPAA ainda censura imagens que estão disponíveis em qualquer programa noticioso nocturno.”


A decisão da MPAA é sustentada por ter identificado “linguagem forte, algumas imagens violentas, uso de drogas e breve nudez explícita”. É aqui que entra Portugal, como Moore explicou nas últimas horas de segunda-feira à revista Variety. Quando a MPAA refere que o documentário mostra imagens de consumo de drogas, trata-se do excerto em que Moore viaja até Portugal e debate, fazendo entrevistas, a decisão de 2001 de descriminalizar a compra, posse e consumo no país. Em Portugal, Moore falou com polícias e sobre os índices de decréscimo do consumo de estupefacientes, com um dos responsáveis da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência de Lisboa e sobre outros temas (esteve na manifestação da CGTP no 1.º de Maio, por exemplo) – no fundo, servindo o propósito do documentário, que visa mostrar aos EUA formas alternativas de gerir ou encarar questões sociais.

Where to invade next é então um documentário filmado em registo de viagem que escolhe uma abordagem satírica – exemplificada pelo próprio título – para ir buscar exemplos a vários países, da Islândia à Alemanha, passando pela Finlândia ou Portugal, de formas alternativas à norte-americana de lidar com problemas sociais e económicos partilhados por vários países do ocidente. Prisões, drogas, cuidados de saúde, raça. Muito disputado pelos distribuidores no Festival de Toronto em Setembro, é o mais recente filme de Moore, cujo Fahrenheit 9/11 continua a ser o documentário mais rentável de sempre. 

A cena de nudez de que fala a MPAA são “dois segundos de alemães nus a entrar num jacuzzi”, explica Moore sobre um pedaço da história em que os tratamentos em termas ou spas podem ser comparticipados pelo Estado (neste caso alemão); a presença de palavrões diz respeito ao uso da palavra “fuck” num protesto contra o colapso dos bancos da Islândia durante a crise, em 2009; e a violência é o vídeo da detenção violenta, que se revelaria fatal, de Eric Garner por agentes da polícia e que originou uma das vagas mais recentes de contestação sobre a brutalidade policial e raça nos EUA.

“Gostava que a MPAA simplesmente fosse honesta e espetasse uma etiqueta nos meus filmes a dizer: ‘Este filme contém ideias perigosas que os 99% podem considerar perturbadoras e levá-los a revoltar-se’”, escreve Michael Moore numa nota enviada à imprensa especializada norte-americana.

E, em entrevista à Variety, acrescenta: “A MPAA não quer que os adolescentes vejam estas coisas sem supervisão parental. O meu conselho aos adolescentes da América é que vocês sabem o que fazer e sabem como entrar” nos cinemas. “Vejo filmes PG-13 [que avisa os pais que alguns conteúdos podem não ser apropriados para crianças com menos de 13 anos] onde literalmente centenas de personagens são ceifadas com armas ou bombas”.

Os distribuidores do filme nos EUA também concordam que a classificação significa que para a MPAA os estudantes de liceu “simplesmente não são suficientemente maduros para lidar com ou discutir assuntos importantes que afectam directamente a sua busca do sonho americano”.

O filme estreia-se a 23 de Dezembro nos EUA, estando assim apto a poder ser seleccionado para a temporada de prémios de 2016, sendo que pode ser lançado sem a classificação – mas muitos cinemas rejeitam exibir filmes sem esse selo. 

fonte: Público

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