RELÓGIO DO APOCALIPSE

domingo, 28 de outubro de 2018

Teorias dos rastos químicos dos aviões chegam ao Parlamento

Resultado de imagem para Rastos deixados pelos aviões levantam dúvidas

Rastos deixados pelos aviões levantam dúvidas

A possibilidade de os aviões estarem a deixar rastos químicos na atmosfera - chemtrails - vai ser debatida hoje na Assembleia da República. A discussão deve-se a uma petição que reuniu 4384 assinaturas (quando foi admitida a 21 de março e que agora conta com 4572). O primeiro subscritor da petição, Tiago de Jesus Lopes, espera que pelo menos agora, os deputados "esclareçam o que pensam desta situação". No entanto, este é um tema que não tem validação científica e que, por exemplo, Francisco Ferreira, da Zero, classifica apenas como "teoria da conspiração".

Os subscritores da petição - que levou mais de cinco anos a reunir as quatro mil assinaturas - defendem que os aviões estão a deixar, pelo país, rastos químicos que servem para manipular o clima e acabam a poluir o meio ambiente. O texto da petição refere "relatos deixados por exemplo no Facebook, de cidadãos de vários pontos do país, de aviões que sobrevoam o espaço aéreo e libertam produtos químicos deixando um rasto visível durante horas". E questionam se este fenómeno não "poderá estar relacionado com as alterações climáticas e o aumento de patologias nomeadamente alérgicas, respiratórias e oftalmológicas?". Para Tiago de Jesus Lopes tem-se tornado evidente que o objetivo da libertação de aerossóis "não pode ser o objetivo primário que se anunciava de formar vários tipos de nuvem, que permitia fazer cair chuva onde quisessem". "Eles também dizem que é para fazer a gestão da radiação solar, mas essas partículas estão em todo o lado, são metais pulverizados e ficam em todo o lado", acrescenta.

Junto com a petição, foram enviados aos deputados da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, links que sustentam as dúvidas e preocupações dos peticionários.


A comissão ouviu o primeiro peticionário, na audição regimental, onde não estiveram os grupos parlamentares. A petição vai agora ser debatida em plenário, por imposição legal.

Se Tiago de Jesus Lopes espera ver esclarecidas as posições dos partidos - embora sem grande expectativa de mudanças, principalmente nos "grupos principais que vão defender as diretivas europeias" -, Francisco Ferreira espera que "a teoria seja recusada".

"A Zero já recebeu muitos emails de pessoas a queixarem que não dávamos atenção à questão e tentamos sempre responder. Se os deputados entenderem que deve haver algum esclarecimento das companhias aéreas ou da gestão dos aeroportos - que penso ser desnecessário face ao conhecimento técnico e científico que explicam o aparecimento dos rastos -, que devem pedir pareceres para esclarecer a população, pode ser útil, nessa perspetiva pedagógica", defende o ambientalista. Os cientistas explicam que os rastos resultam da emissão de partículas ultra finas por parte dos aviões que em contacto com a atmosfera condensam.


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Rússia acusa EUA de estarem a aumentar arsenal de armas nucleares


Rússia acusou os EUA de estarem a aumentar a influência das armas nucleares no seu arsenal, uma campanha intensificada para garantir "a superioridade militar do país sobre o resto do mundo".

O diretor do Departamento de Não Proliferação e Controlo de Armas do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Andrei Belousov expressou, na segunda-feira, junto do comité de desarmamento da Assembleia Geral da ONU que Moscovo está "especialmente preocupado" com a revisão da postura nuclear de Washington, que prevê o fabrico de novas armas nucleares.

De acordo com Andrei Belousov, os EUA estão a desenvolver uma defesa global contra mísseis balísticos, o que provocará um desequilíbrio das armas convencionais no mundo.

A Rússia tem pedido repetidamente "condições apropriadas" e que se tomem "medidas práticas para libertar o mundo das armas nucleares".

Estas declarações vêm na sequência, dos EUA terem anunciado, no sábado, que vão retirar-se de um tratado sobre armas nucleares assinado com a Rússia durante a Guerra Fria, na qual acusaram Moscovo de violar o acordo "há muitos anos", disse o presidente norte-americano, Donald Trump.

"A Rússia não respeitou o tratado. Então, vamos por fim ao acordo e desenvolver as armas", afirmou Donald Trump, citado pela Agência France Presse, depois de um comício em Elko, no estado do Nevada, referindo-se ao tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF, sigla em inglês), assinado em 1987 pelos então presidentes norte-americano e soviético, Ronald Reagan e Mikhaïl Gorbachev, respetivamente.


Tribunal nos EUA confirma perigo de herbicida com glifosato



Os títulos da gigante química alemã Bayer caíram no mercado de ações, após a confirmação, nos Estados Unidos, da condenação de sua subsidiária Monsanto por esconder a perigosidade do Roundup, o seu herbicida com glifosato.

A Bayer caiu de 6,69% para 71,42 euros na Bolsa de Valores de Frankfurt, elevando as suas perdas para mais de 30% desde o início do ano.

Na segunda-feira à noite, um juiz dos Estados Unidos reduziu a indemnização paga à Monsanto em mais de 200 milhões de dólares, para 78 milhões, mas confirmou a fundamentação da sentença lida no verão em São Francisco.

Os investidores veem a sentença como "uma surpreendente derrota para a Bayer", de acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung, já que a decisão provavelmente influenciará as mais de oito mil ações em andamento nos tribunais nos Estados Unidos por causa dos produtos de glifosato da Monsanto.

Depois de um processo retumbante, um júri popular de São Francisco concluiu em 10 de agosto que a Monsanto, que em breve seria absorvida pela Bayer, agiu de forma "maliciosa" ao esconder a natureza potencialmente cancerígena do glifosato.

De acordo com esse julgamento, que já havia provocado a queda da Bayer no mercado de ações, os herbicidas Roundup e a RangerPro contribuíram "significativamente" para o cancro de Dewayne Johnson, de 46 anos, um jardineiro que tem a doença em estado terminal.

Após a nova decisão na segunda-feira, a Bayer disse que a redução acentuada na indemnização a pagar foi "um passo na direção certa", mas continua a contestar fundamentalmente a perigosidade do glifosato e pretende recorrer.

A gigante alemã, que aposta a médio prazo no papel crescente da química para alimentar o planeta, teve que desembolsar 63 biliões de dólares (54 biliões de euros) para adquirir a Monsanto, ao mesmo tempo que entregou 7,6 biliões de euros em ativos à sua compatriota BASF.


segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Gorbachev critica "falta de sabedoria" de Trump pela retirada dos EUA do tratado nuclear


O último dirigente soviético, Mikhail Gorbachev, criticou hoje a "falta de sabedoria" de Donald Trump, por ter decidido a retirada dos Estados Unidos do tratado nuclear, assinado com a Rússia, em 1987.

Resultado de imagem para Gorbachev critica "falta de sabedoria" de Trump pela retirada dos EUA do tratado nuclear

Em caso algum se devem quebrar os antigos acordos de desarmamento. É tão difícil entender que a recusa desses acordos não seja uma falta de sabedoria? É um erro", disse Gorbachev, à agência de notícias Interfax, qualificando a decisão de Trump como "muito estranha".

No sábado, o Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos projetavam retirar-se do Tratado sobre Forças Nucleares Intermediárias (INF) e sobre armas nucleares de alcance intermediário, assinado em 1987 pelos então presidentes dos Estados Unidos e da União Soviética (URSS), respetivamente, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev.

Segundo Gorbachev, a decisão dos norte-americanos "irá minar todos os esforços da URSS e dos líderes dos EUA para alcançar o desarmamento nuclear", noticia a AFP.

"Todos os acordos concluídos anteriormente devem ser preservados porque contêm o que não é referenciado noutros documentos. Eles fornecem controlo, o que deve ser considerado valioso", continuou.

"Washington não entende ao que isso pode levar?", questionou o ex-líder soviético, apelando a "todos os que apreciam um mundo sem armas nucleares" a convencerem Washington a reconsiderar a sua decisão e "preservar a vida" na Terra.

Moscovo reagindo às declarações de Trump, afirmou que tal decisão é "um passo muito perigoso".


sábado, 20 de outubro de 2018

Brasil. Um dia no país das ‘fake news’


No dia em que o Brasil acordou com a notícia de mais uma polémica relacionada com a campanha que se faz no WhatsApp, o SOL entrou num dos grupos de disseminação de notícias falsas de apoio a Bolsonaro, cuja candidatura Haddad quer agora impugnar.

Meio-dia e nem sinais do Folha nas bancas. Avenida Paulista, encontro marcado com um infiltrado num dos grupos de WhatsApp de apoiantes de Bolsonaro. Em tempo de fake news, nada como ver para acreditar no que, noutro tempo, contado pareceria mentira. Antes que seja identificado e expulso, vamos dizer que é um português a viver no Brasil, a torcer para que vença Haddad na segunda volta, marcada já para o próximo fim de semana. Para a história basta. Isso e perceber como deu com o grupo: através de um link afixado num supermercado de uma pequena cidade num estado do norte do país.

Entrar nestes grupos é fácil. Basta um convite, um clique e já lá estamos. ‘Capitão Bolsonaro’, ‘Nosso Capitão’, bandeiras do Brasil e descrições ‘patrióticas” são clássicos. O pior vem depois. Coisas como: «O assassinato de Bolsonaro: o plano para assassinar Bolsonaro será concluído caso ele e sua equipa não adotem medidas extremas de segurança. Ciro saiu do país para não levantar suspeitas, Haddad tenta desesperadamente tirá-lo de casa, as armadilhas são muitas, Bolsonaro se tornará de fato um mito.» Ou pretensas citações bíblicas justificando o uso de armas. Entramos e nem trinta segundos demora até recebermos a notificação da primeira mensagem, e por aí fora até a cadência de alertas se tornar insuportável.

O assunto do dia, quinta-feira, não é homicídio, não é o suposto “kit gay”, que Fernando Haddad, o candidato do PT, alegadamente distribui pelas escolas. O tema é a notícia do dia, da Folha de São Paulo: de que várias empresas privadas que apoiam Jair Bolsonaro contrataram serviços de marketing para a distribuição de «centenas de milhões» de mensagens com propaganda anti-PT via WhatsApp, em contratos que atingiam valores de 12 milhões de reais (2,8 milhões de euros), num país em que desde 2015 as empresas estão proibidas de financiar candidatos. “Fake news”. Se Bolsonaro é extrema-direita, então a Folha é «extrema-imprensa». 

No dia seguinte, chegaria uma petição: «Em resposta ao senhor Haddad que quer saber quem banca a campanha do Jair: Somos marketeiros do Jair Messias Bolsonaro.» Mais de 100 mil assinaturas de gente que se declara «voluntária» em defesa do capitão, que se defendeu na mesma linha: «Eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Eu sei que fere a legislação. Mas não tenho como saber e tomar providência.»

Sobre as eleições, diz-se que Bolsonaro as está a ganhar aqui, no WhatsApp. Já no início do mês, a cinco dias da primeira volta, um inquérito do Datafolha para a Globo e a Folha revelava que, entre os quatro candidatos que lideravam as sondagens, eram os eleitores de Bolsonaro os que mais usavam as redes sociais para se informarem. Os números, preocupantes, foram então mais do que repetidos: quase dois terços (61%) dos eleitores de Bolsonaro afirmavam ler notícias no WhatsApp. Entre os eleitores de Ciro Gomes, a percentagem baixava para 46%, e nos de Fernando Haddad, para 38%. No Facebook, a lógica mantinha-se e mudavam apenas os números: 57% (Bolsonaro), 50% (Ciro) e 40% (Haddad).

Ainda em dezembro de 2016, o ano do impeachment de Dilma Rousseff, o Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo da Universidade de Oxford, publicava um estudo sobre 26 países em que notava como o consumo de notícias via redes sociais aumentava no Brasil. E se 91% dos brasileiros diziam informar-se via internet, 72% faziam-no através das redes sociais, com o Facebook e o WhatsApp como plataformas de eleição. Nesse ano, entre os 26 países analisados, o Brasil era o terceiro em que as redes sociais tinham um maior peso nas fontes de informação e era aquele que mais crescia no consumo de conteúdos jornalísticos online.

Na quinta-feira, foram divulgados os resultados de uma análise liderada pelos investigadores Pablo Ortellado (Universidade de São Paulo) e Fabrício Benvenuto (Universidade Federal de Minas Gerais, onde nasceu o projeto Eleição Sem Fake), em conjunto com a agência de verificação de factos Lupa (uma entre várias) a 347 grupos de WhatsApp: apenas 8% das imagens partilhadas (muita da informação circula na forma de memes ou de vídeos) podem ser classificadas como verdadeiras. Os conteúdos analisados circularam entre os dias 16 de setembro e 7 de outubro, o dia da primeira volta das presidenciais. Período em que ao todo, entre os 18 mil utilizadores daqueles 347 grupos, circularam 846 mil mensagens, entre textos, vídeos, imagens e links externos.

Pedido de impugnação

De volta à Paulista. Porque estamos na Paulista ainda, sentados à mesma mesa, e o telefone não parou um minuto. Tudo do grupo pró-Bolsonaro. Conversa sobre a campanha e a segunda volta cada vez mais perto, daí a reação de Haddad, o pedido de impugnação da candidatura do adversário alegando a inelegibilidade do candidato do PSL por abuso de poder económico.

Diálogo entre esquerda e direita, pelo menos entre a esquerda e a direita que apoiam um e outro candidato, é coisa que não existe. É ver como entre círculos de amigos pró-Haddad é difícil encontrar um pró-Bolsonaro. E vice-versa. Os universos mal se tocam, e os algoritmos não ajudam. Só pioram. Citado pelo jornal da Universidade de São Paulo, o investigador Marcio Moretto Ribeiro lembrava já no ano passado que as redes sociais não são só causa. São também efeito da polarização do debate político. «Cada pessoa que está acompanhando o debate na rede social tem uma visão parcial do debate político todo que está acontecendo no Brasil, afirmava.

Onde encontrar apoiantes de Bolsonaro então? Há quem diga que não há quem garanta que sim, a estatística de bolso confirma: em São Paulo, difícil é encontrar motorista de Uber que não esteja por Bolsonaro. Até Diego, que não diz, mas também não precisa. 

Viu as notícias? «Não vi não…» Por essa hora já Fernando Haddad tinha pedido a impugnação da candidatura do adversário do PSL, que continua na frente na corrida – segundo as últimas sondagens, contabilizando os votos válidos a diferença é 59% a 41% – , exigindo uma segunda volta frente a Ciro Gomes, do PDT, o terceiro mais votado a 7 de outubro.

«Ah é? Era só o que faltava. Mas do jeito que o Brasil é… não duvido muito, não. Só patifaria. Principalmente eles.” Eles, os petistas? Vai votar Bolsonaro? Silêncio. «Se o PT ganha de novo é palhaçada! É palhaçada. Não tem como o povo ser tão burro assim. Ou tem?» Medo de Bolsonaro? «Todo o político que entra, por mais que seja certo, acaba virando errado. Vamos lá: o Lula. O Lula era um cara mau? Ele não era um cara mau. Ele tinha o jeito dele de trabalhar. Foi tudo ele? Não foi tudo ele, lógico que não. Disso [a notícia da Folha] estou sabendo agora por você.»

E estas mensagens de que se fala, via WhatsApp? «Só recebo notícia de um candidato ou do outro, cada um falando dele, tipo anúncio. E na verdade vem de todos. Para ser sincero, nem leio. Para falar que nem leio, li uma hoje do Bolsonaro falando da história dele um pouco — não o que ele vai fazer ou o que ele não vai, só falando do começo da carreira dele, que ele era tipo soldado… Não foi uma propaganda dele, entendeu? Acho que também não pode ficar mandando mensagem assim como se fosse campanha eleitoral.»

O que pode e o que não pode, não há outro assunto por estes dias. Já é a Rua Rocha agora, no Centro de São Paulo. Ao ruído do trânsito de início de noite sobrepõe-se a voz de Haddad vinda de uma TV à entrada de um corredor de recolha de automóveis. Perguntamos se podemos entrar, o moço responde que sim. Ademar. Daqui? «Nascido em São Paulo, sim.» Mas sotaque não engana e acerta: família toda na Baía, no nordeste, onde Haddad bateu Bolsonaro. «Uma grande piada. O sr. Haddad está absolutamente desesperado porque vai perder a eleição», reage o candidato do PSL, na televisão. Mas vem Ademar falar por cima: «Acho que ele vai impugnar. Tem 30 empresários envolvidos, 30 empresários! Isso não pode não, isso aí é roubo. Votei nele mas agora não vou votar mais não!» Não vai votar Bolsonaro? «Votei. Mas tem rolo. Por isso que ele falou que tinha a mão na faixa. Ele acha que tá com a mão na faixa, não voto mais!»

fonte: Sol

Manipular o clima já não é ficção. Mas a realidade pede (muita) prudência


As novas soluções para manipular o clima têm um alcance global nunca visto, de consequências tão imprevisíveis, que a maioria dos cientistas nem as quer testar. “Isto pode provocar guerras”, diz um climatologista

Há muito que a dança da chuva dos povos indígenas deixou de ser a esperança da Humanidade para mandar vir água dos céus. Rezas e procissões, que no ano passado se viram em Portugal numa tentativa de acabar com a seca, também já passaram de moda. Persistem os canhões de granizo e a inseminação de nuvens, técnicas introduzidas há várias décadas para impedir a queda de gelo e provocar a chuva, embora de eficácia duvidosa aos olhos de boa parte da comunidade científica. São as soluções em estudo para manipular o estado do tempo que parecem apresentar, enfim, o potencial de influenciar o clima à escala planetária, de tal modo que só uma minoria de cientistas se atreve a dar a cara por elas.

“São atrativas na teoria, mas podem ser muito perigosas na prática”, sustenta o climatologista Carlos da Câmara, sobre as propostas de geoengenharia para controlar os humores de São Pedro. A mais controversa envolve o aumento da capacidade de refletir a luz solar, de forma a reter menos calor e assim arrefecer a temperatura da Terra. Sugestões tão mirabolantes como cobrir desertos de plástico, remexer a água do mar para formar camadas de espuma branca ou posicionar espelhos gigantes no Espaço parecem impossíveis de concretizar, mas existem alternativas mais acessíveis para devolver raios de Sol ao Universo.

A principal passa por lançar na estratoesfera dióxido de enxofre (SO2), criando uma espécie de véu protetor, a muitos quilómetros da superfície terrestre, semelhante ao das erupções vulcânicas. A ideia, aliás, surgiu a partir de evidências científicas que demonstraram que as partículas expelidas pelos vulcões podem resultar, no ano seguinte, no arrefecimento da temperatura em um grau. Tem a vantagem de ser uma medida economicamente viável, mas encontra forte resistência devido aos efeitos, totalmente imprevisíveis, que pode gerar no clima, a nível global. Em abril, 12 cientistas assinaram um texto na revista Nature a reclamar prudência nas experiências.

“Imagine-se que ocorre uma seca brutal na Península Ibérica ou na Índia, em época de monções, das quais dependem milhões de pessoas para sobreviver. Ninguém saberia ao certo se era um fenómeno natural ou consequência da geoengenharia”, ilustra o climatologista Ricardo Trigo, aflorando outro foco da polémica: “Isto pode provocar guerras. Quem seria o político que assumiria uma responsabilidade deste alcance? Nem Trump se mete nisso.”

Financiado por Bill Gates e outros bilionários americanos, o projeto Scopex tem previsto para este ano um teste de pequena escala desta tecnologia. David Keith, professor de Física Aplicada em Harvard, lidera a investigação, que ganha força perante a necessidade, saída do Acordo de Paris, de não deixar o termómetro subir mais do que dois graus até ao final deste século (sendo que já subiu um). O problema é que nenhum teste de pequena escala conseguirá antecipar o impacto real da geoengenharia solar, a ponto de estarem proibidos à luz da Convenção sobre a Diversidade Biológica – que os Estados Unidos da América não assinaram.

Outra hipótese de alcance global para mexer com o clima passa por capturar dióxido de carbono da atmosfera. Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, considera esta alternativa menos arriscada, no sentido em que “vai à raiz do problema”: a excessiva concentração de gases com efeito de estufa. A falta de valor económico do CO2, porém, dificulta a aposta na solução. “Nos Estados Unidos da América e na Europa já há centrais térmicas a carvão que capturam o dióxido de carbono dos gases que saem da combustão. Só não há mais porque a eletricidade fica mais cara para o consumidor”, argumenta o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, acrescentando que a escolha se faz entre duas opções: “Ou se investe para resolver o problema de gerações futuras ou então quem vier a seguir que pague a fatura.”

GUERRA DE CHUVA

O controlo do clima é uma ambição que as grandes potências perseguem em várias frentes. Na Guerra do Vietname (1955-1975), os Estados Unidos da América agravaram as chuvas das monções do lado do inimigo, através da técnica de inseminação de nuvens, ainda hoje a mais popular. O objetivo da operação Popeye, como lhe chamou o exército americano, era enlamear os caminhos para dificultar o abastecimento aos soldados vietnamitas, a partir dos territórios vizinhos do Laos e do Camboja.

Fazer da manipulação do clima uma arma de guerra foi, entretanto, proibido pela Convenção de Genebra, no final dos anos 70, mas lançar iodeto de prata na atmosfera é hoje uma prática corrente em muitos países, para fins bem mais pacíficos. A China tem vindo a desenvolver um sistema para fazer chover em zonas mais áridas e, em vez de recorrer a aviões para soltar os químicos, instalou centenas de câmaras de combustão no Tibete, capazes de gerar iodeto de prata e o libertar na direção das nuvens.

Durante os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, os chineses já tinham montado uma gigantesca operação para evitar que a chuva desabasse sobre as competições, com satélites para identificar nuvens num raio de quase 50 mil quilómetros quadrados. O plano tinha duas alternativas: ou provocavam a chuva longe do recinto ou dissipavam as nuvens com outros produtos químicos, como se acredita que os soviéticos já tinham feito nas Olimpíadas de Moscovo, em 1980.

Apesar de ser já longo, o caminho para manipular a meteorologia, apoiado nas inovações tecnológicas, ainda tem muito para andar.

fonte: Visão

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...